Salvador, 27 de novembro de 2012
Depois de ter saído do meu apartamento às seis da manhã da
segunda-feira, dia 19 último, em direção ao aeroporto Luis Eduardo Magalhães
com destino à João Pessoa, entrei numa aeronave da companhia Avianca. Minha
conexão era em Brasília. Descobri dois dias antes que a companhia aérea Gol possuía
voo direto para capital paraibana, mas mesmo assim, fui adesivado igualzinho a
minha mala e embarquei numa jornada cujas cidades são geograficamente próximas,
porém o tempo de duração do itinerário é
comparado a voo internacional. Duas horas até Brasília, saindo de uma capital
nordestina, e depois mais duas horas e
meia voltando para outra capital da mesma região. Somem-se a isso os traslados e tempos
de espera nos aeroportos e lá se foram quase dez preciosas horas de minha vida entre
Salvador e João Pessoa.
Era por volta das dezesseis horas quando comecei a preencher
o formulário de check-in do Marinas Flat Hotel, em Tambaú. Apesar da
minha chateação com o tempo perdido, fiz uma fotografia do hall do hotel que me
hospedei (estampada neste artigo) em direção ao exuberante mar, cuja beleza da
cena acabou traduzindo um pouco das impressões que acabaria tendo com a cidade.
O Aeroporto Internacional Presidente Castro Pinto fica localizado
no município de Bayeux, distante aproximadamente quatorze quilômetros do centro
de João Pessoa e foi recentemente reformado para elevar a sua capacidade de
passageiros. Durante este trajeto, e dentro de um micro-ônibus, fui atentando
para as características das ruas na medida em que deixava o município vizinho para traz e me
aproximava da cidade mais verde do Brasil. De acordo com a ONU, ela perde no
mundo apenas pra Paris neste quesito.
Fui à capital paraibana para participar de um Fórum que
faço parte desde o ano de 2009. Junto
comigo estavam outros dirigentes que desembarcaram de diversos estados
brasileiros quase no mesmo horário que eu. No saguão do aeroporto, fomos
recepcionados calorosamente por funcionários da instituição que promoveu o
evento. Interrompi uma pessoa do local.
- Aqui tem muitos congestionamentos? – Perguntei com a
curiosidade típica de quem se interessou em morar na cidade.
- Nenhum! – Disse-me com entusiasmo a cicerone.
Apesar desta convicta resposta e pra azar nosso, nos deparamos
com um engarrafamento atípico na periferia da cidade que atrasou sobremaneira
nossa chegada ao hotel. Mesmo assim, não pude deixar de apreciar o ar bucólico
e a aparente tranquilidade das alamedas pelas quais trafegávamos.
Também conhecida como “cidade pomar”, em virtude da enorme
variedade de árvores frutíferas que ornamentam o município, João Pessoa
proporciona aos moradores uma qualidade de vida de dar inveja a pessoas que,
como eu, tem a infelicidade de dedicar duas horas diárias de sua vida a um
trânsito caótico e estressante das grandes metrópoles.
Mesmo tendo um forte apelo à preservação do verde que confere à cidade
um título reconhecido pelas Nações Unidas, está nas belíssimas praias urbanas
aquilo que considero um diferencial turístico. Cerca de trinta quilômetros de águas
marinhas, em diversos tons de azul, aparentemente despoluídas e com uma
temperatura ideal para o banho – mesmo às seis da manhã e às seis da tarde, momentos
em que eu, livre do compromisso de trabalho, atravessava a rua que separa o
hotel - onde me hospedei e foi realizado o evento - e a Praia de Tambaú, para
arriscar um mergulho solitário. A orla pessoense tem ainda vastos coqueirais e imensas
falésias. Em uma de suas praias, Seixas, está situado o ponto extremo oriental
das Américas. É onde o sol nasce primeiro no nosso continente.
O projeto de urbanização do litoral, para o trecho que vai de Seixos a Bessa, demonstra falhas, sobretudo de acessibilidade, pouco
perceptíveis à turistas que ficam hipnotizados com a beleza local. O calçadão
de mais de cinco metros de largura entre Cabo Branco ao sul e Manaíra ao norte,
passando por Tambaú, sofre reduções consideráveis de largura nos seus extremos.
Obstáculos como postes, árvores,
telefones públicos estão dispostos neste calçadão tornando-o uma tormenta aos
portadores de necessidades especiais. Não existem sanitários públicos suficientes
ao longo da orla – pelo menos eu não identifiquei. E a ciclovia existente é uma
pista improvisada sobre a via asfaltada que contorna as praias.
Apesar destes problemas de urbanização identificados, a
generosidade da natureza para com a cidade é enorme. A beleza de sua paisagem é
indiscutível e a atmosfera singela culmina num convite à moradia. Não tive
notícias de violência urbana nos quatro dias que passei por lá. Coincidência ou
não, a versão local do jornal afiliado da rede Globo, ao contrário da variante
baiana, não dá ênfase à violência e nem ao futebol profissional. Talvez seja
exatamente porque ambos sejam raridades na capital paraibana.
Fiz uma incursão pelo patrimônio histórico da cidade. Este conjunto é considerado por técnicos e
especialistas como um dos mais destacados do Brasil. Na cidade está erguida uma
arquitetura Franciscana, formada pela igreja de São Francisco e Convento de
Santo Antônio, que começou a ser construído no final do século XVI. Em outras
partes da cidade há uma considerável quantidade de monumentos, prédios e
igrejas que se destacam pela influência do barroco e sobrados coloridos de
arquitetura eclética.
Até a madrugada de sexta, dia 23, quando retornei a
Salvador, me diverti em bons bares e restaurantes e caminhei tranquilamente
pela cidade, desbravando suas avenidas e quadras bem delineadas e típicas de um
traço idealizado por urbanistas visionários. Alguém tratou de proteger a orla
da invasão dos arranha-céus. Lá o código de obras municipal define um gabarito
de altura que impede a construção de prédios com mais de seis pavimentos. Neste
aspecto as areias da praia estão protegidas de serem sombreadas pelas projeções
dos edifícios durante as tardes. Ainda bem, pois senão viríamos banhistas
buscando uma estreita faixa ensolarada nas areias correspondente aos recuos
entre os arranha-céus, que de quebra impediria a plena entrada das brisas
marítimas para o miolo da cidade tal e qual acontece nas praias de Copacabana,
no Rio e Boa Viagem, em Recife.
Neste aspecto, João Pessoa tem muito a ensinar às tantas
outras capitais brasileiras de que sinônimo de viver bem não está nem um pouco relacionado
à maciça ostentação das metrópoles desenvolvidas, e sim ao freio de arrumação que
se dá à civilização quando se pode usufruir de pacatos paraísos como este.