quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Os órfãos do esquerdismo







Salvador, 18 de outubro de 2012



Era início da década de noventa, o Brasil ainda vivia os resquícios da ditadura militar, quando fui matriculado na antiga Escola Técnica Federal da Bahia. Meu ideal em vestir a camisa azul daquela instituição trazia um romantismo e uma visão apequenada do leque de oportunidades que viria a desfrutar a partir dali. Cego nas transformações políticas pelas quais o país enveredaria, fui me ambientando num universo absolutamente politizado que efervescia a partir da massiva e intensificada ideologia do movimento estudantil da minha antiga escola. Este movimento era unilateral. Sua conversão era com os chamados partidos de esquerda.
A antiga ETFBA era verdadeiramente intensa em todos os sentidos. A medida que nós, alunos, nos deparávamos com as famosas exigências dos rígidos professores que tínhamos, íamos também  nos aprofundando em tantos outros retalhos que constituíam o lençol de formação cidadã daqueles que por ali passaram.  Fiz centenas de bons amigos, conheci músicas de boa qualidade, discuti sobre diversas matrizes religiosas, aprendi sobre cultura e arte e fui doutrinado em política partidária. Minha simpatia pelos então chamados partidos de esquerda iam, com o passar do tempo, se intensificando. Evidente, que os professores  da Escola Técnica exerciam uma grande influência em mim, nos meus colegas e nos líderes estudantis que viriam a seguir.
As nossas aulas nas áreas de ciências humanas tendiam a utilizar textos com vieses socialistas, provavelmente produzidos pela classe intelectual brasileira, que se baseava nas críticas da classe trabalhadora aos efeitos da industrialização e da sociedade caracterizada como injusta pelos pensadores Karl Marx e Friedrich Engels. Nossa verdade era apenas aquela: éramos todos socialistas ou comunistas a defender a tomada de poder pelos partidos de esquerda.  Posso fazer uma lista com os inúmeros colegas secundaristas que defendiam tais ideias desde aquela década e, estão até hoje enraizados às mesmas teorias. Pararam no tempo. E no que se transformaram estes partidos de esquerda?
Ao longo desses anos acompanhei a política partidária brasileira e vi absurdos. Vi o antigo PCB (Partido Comunista Brasileiro) se transformar em PPS e se aliar a partidos oriundos da antiga Arena em diversos certames. Vi o PT e o PCdoB formarem um arco de alianças pelo Brasil adentro com partidos tidos como de aluguéis. Vi o PSDB se aliar ao antigo PFL, hoje DEM, para eleger seu primeiro presidente da república. Vi o Partido Verde se afastar das causas ambientais. Vi dezenas de partidos nanicos serem criados com a explícita intenção de coagirem os chefes de executivos a negociar mensalões e mensalinhos. E, finalmente, vi surgirem os “novos” partidos da esquerda brasileira. Novos? Como assim?
Qual a verdadeira ideologia por trás de partidos como PSOL, PSTU e PCO? Evidente, que olhando pra dentro destas agremiações encontraremos pessoas ainda entrincheiradas na luta em defesa de interesses sociais coletivos como o meu colega de Escola Técnica, ex-membro do grêmio estudantil e hoje vereador eleito por Salvador, Hilton Santana. Há que se considerar a sua origem. Foi sempre atuante dentro do Partido dos Trabalhadores e integrante da facção “Força Socialista”, cujo membro mais conhecido, Nelson Pelegrino, se tornou várias vezes deputado federal e hoje, além de candidato a prefeito de Salvador é também adversário político do futuro edil. O que está em jogo? Quem está certo?
Não há certo ou errado. Existem os interesses óbvios nesta disputa. Estes partidos socialistas são, exatamente, as repetições, transladadas no tempo, do mesmo tipo de projeto implementado pelo PT. Seus argumentos são os mesmos. Sua militância usa as mesmas táticas. E, acreditem, usam também os antigos discursos de Marx e Engels para seduzir os jovens alunos de instituições de educação pra engrossar a ala dos seus filiados. Não há nada de inédito. Aliás, só temos coisas velhas.  Na antiga União Soviética e no Leste Europeu o socialismo real se transformou num sistema ditatorial, que acabou em derrocada em virtude dos Estados investirem na indústria bélica em detrimento dos investimentos em educação e tecnologia.
Alguns países se mantêm no propósito socialista: China, Vietnã, Coréia do Norte. Notem que a maior parte dos tênis que calçam os consumidores exigentes dos países ocidentais é oriunda da conhecidas multinacionais que lucram com o trabalho quase escravo e a exploração infantil nos ditos países socialistas. Que socialismo é esse?
Cuba, único país socialista na América, desde o ano passado vem modificando suas relações com a população com o real objetivo de dinamizar sua economia. Ainda esta semana ouvi no Jornal Nacional que as antigas restrições de entrada e saída de turistas daquela nação caíram por terra...
Jacques Wagner, governador da Bahia, é hoje considerado um crápula pela grande maioria dos servidores públicos do estado, sobretudo pelos professores e policiais militares cujos sindicatos impôs uma greve intensa e desgastante ao seu governo. Quem é Jacques Wagner e qual a sua origem? Wagner é ex-sindicalista e um dos fundadores do PT no Brasil e na Bahia. Seu antigo discurso parecia, e muito, com a oração daqueles que hoje empunham a bandeira amarela e vermelha do PSOL. Agora vamos ao seguinte raciocínio, qual garantia temos de que os defensores contemporâneos do socialismo não tenderão a se comportar da mesmíssima forma que os velhos esquerdistas? “Eu vejo o futuro repetir o passado...”(Cazuza).
As duas décadas que separam o meu imaturo encantamento e a minha forte desilusão com o discurso e a praxis dos políticos brasileiros foram suficientes para me transformar num cidadão crítico e desconfiado. E, por demais, desalinhado com o pensamento cartesiano que quer fixar a lógica  de lados políticos diametralmente opostos. E, o pior, que apenas um deles tem razão. Isto não é verdade!  É preciso nos livrar dos (pré)conceitos  existentes. É preciso nos livrar da síndrome de juízes repentinos que insiste em julgar a tudo e todos com base apenas no nosso exclusivo juízo de valor e, às vezes, na rasa e superficial opinião das massas.
Não acredito mais nas agremiações políticas do nosso país. Os grupos são organizados por pessoas com interesses outros. Muitos deles viram uma corja cujos objetivos principais são realizações de negociatas em caros restaurantes a beira do lago Paranoá em Brasília. Logo, não podemos garantir que as argumentações do presidente nacional do partido ”A” seja, de fato, a mesma pretendida pelos quadros  deste partido nas esferas municipais ou estaduais.
Haveria de existir uma questão de espectro ideológico. Pessoas só deveriam filiar-se às organizações quando se tornassem catedráticas das linhas do pensamento político e econômico, e de poder do partido pretendido. Quem tutela a corrente liberal, deveria, em tese, advogar princípios como a limitação da participação do estado na atividade econômica do país. Quem patrocina o centrismo, colocar-se-ia contrário ao capitalismo selvagem e também as teorias marxistas. Quem tutora a extrema-esquerda, deveria  se basear no comunismo latente e nas  enciclopédias trotskistas. Será que é exatamente isto o que vemos no Brasil? Acho melhor nos reencontrar com os nossos saudosistas mestres para rever os nossos conceitos.

2 comentários:

  1. Como diria Nelson (pequeno) Ned com aquela música : "Mas tudo passa, tudo passará..." ! Partidos políticos têm em comum uma ideologia pra cada região do país. Vindo de um aspecto indutivo e citando um exemplo da minha cidade -- Simões Filho, região metropolitana de Salvador --, vejo que o atual (e reeleito) prefeito tinha relações contrárias com o governo do estado até 2010, quando o seu irmão virou vice-governador.

    E assim será pra sempre, os ideais de Marx e Engels cada vez mais distorcidos e os "pseudoscomunistas" carregando esse ideal antigo de socialismo.

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  2. "Eu vejo o futuro repetir o passado; 1Eu vejo um museu de grandes novidades"

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